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Os computadores realmente isolam as crianças de hoje?

  • Writer: Casa da Árvore Educação Alternativa
    Casa da Árvore Educação Alternativa
  • Oct 29, 2019
  • 3 min read

Foto: acervo Casa da Árvore


Os computadores realmente isolam as crianças de hoje?

Por Daniel Greenberg


Tradução de Luís Gustavo Guadalupe Silveira


Um dos mitos predominantes sobre o mal infligido às novas gerações pelas “telas” é que os computadores desestimulam as interações sociais de seus usuários. Alega-se que quando as pessoas usam computadores elas eliminam as interações pessoais diretas com seus amigos humanos e se tornam ilhas solitárias, separadas do mundo ao seu redor. Essa tese normalmente é sustentada por adultos que, não estando muito familiarizados com a Era da Informação, fixaram em suas mentes as imagens de uma criança sentada sozinha – diante de um monitor, ou debruçada sobre um smartphone ou tablet, ou concentrada na tela de um notebook – sem ninguém por perto, hora após hora, “viciada” (como frequentemente se referem a isso) nesse “hábito autodestrutivo”.


Essa ideia traz à mente diversos cenários que devem ter acontecido muitas vezes ao longo da história humana. Imagine a primeira aparição de documentos escritos em pergaminhos ou papiros, nos quais belos e melódicos relatos de contadores de histórias registrando a história de seus países, ou profundos discursos analisando os fundamentos filosóficos do pensamento, finalmente foram gravados de maneira que pudessem circular amplamente para uma audiência que nunca havia tido a oportunidade de ouvir o relato original. Que agitação os novos meios de comunicação devem ter causado nas vidas das comunidades que tiveram a sorte de desfrutar deles! Posso apenas imaginar um grupo de adultos em Atenas lamentando ver jovens gregos na flor da idade debruçados sobre a última edição dos diálogos platônicos, no máximo uma ou duas pessoas por vez, cada uma em sua própria mesa ou em sua própria casa. “Esses jovens são viciados nesses pergaminhos modernosos. Eles não conversam uns com os outros, estão ficando antissociais.”


Esqueça o fato de que a escrita permitiu que pessoas geograficamente distantes umas das outras, sem nenhuma expectativa de se comunicar cara a cara, pudessem trocar ideias, mergulhar nas profundezas dos pensamentos umas das outras, e mesmo formar sociedades em localidades muito diversas – organizações sociais, para ser mais preciso – dedicadas a discutir e estudar o conteúdo dos livros, desenvolvendo novas abordagens sobre esse conteúdo, debatendo e refinado-o e, assim, pelo mesmo meio escrito, trocar suas novas abordagens com outras pessoas, sem qualquer possibilidade de contato direto. Antissociais? Jura?


Qualquer pessoa que passe um tempo na Sudbury Valley observa o mesmo tipo de resultado do uso que estudantes (e adultos) fazem da última media lançada, convenientemente agrupada sob a categoria geral de “telas”, conectadas a telas de centenas de milhões de outras pessoas ao redor do globo. E não apenas conectadas a elas, mas conectadas praticamente de forma instantânea, permitindo acesso dinâmico e imediato à informação e a outras pessoas. Às vezes, uma pessoa na escola vai estar fazendo isso individualmente e sozinha; às vezes, vários estudantes sentados num sofá, fisicamente próximos, estarão fazendo isso juntos, mas cada um individualmente; às vezes, vários estudantes estarão fazendo isso em grupo, amontoados sobre uma tela, compartilhando a experiência – com ênfase na palavra “compartilhando”, gargalhando e exclamando surpresa, todos elementos essenciais de interação social direta.


Às vezes, um mito é a representação verbal de uma realidade oculta; outras vezes, um mito é puramente uma construção fantasiosa que contraria a realidade experimentada. A noção de que “tempo de tela” é um passa-tempo que isola as pessoas é um mito desse último tipo, o tipo que contraria a realidade experienciada.



 
 
 

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